BLOGGER TEMPLATES AND TWITTER BACKGROUNDS

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Capitulo 3 - Motivos


O sol estava tão profundamente enterrado atrás das nuvens que
não havia jeito de dizer se ele havia se posto ou não. Depois de
um longo vôo – perseguindo o sol em direção ao oeste até que ele
pareceu nem se mover no céu – isso foi especialmente
desorientador; o tempo parecia estranhamente variável. Eu fui
pega de surpresa quando a floresta deu lugar aos primeiros
prédios, sinalando que estávamos quase em casa.
“Você estava muito quieta”, Edward observou. “O avião te deixou
enjoada?”
“Não, eu estou bem”
“Você está triste por ir embora?”
“Mais aliviada do que triste, eu acho”
Ele ergueu uma sobrancelha pra mim. Eu sabia que era inútil – e
mesmo que eu não gostasse de admitir – desnecessário pedir que
ele mantivesse os olhos na estrada.
“Renée é muito mais... perceptiva do que Charlie de algumas
maneiras. Isso estava me deixando inquieta”.
Edward riu. “A sua mãe tem uma mente muito interessante.
Quase infantil, mas muito intuitiva. Ela vê as coisas diferente
das outras pessoas”.
Intuitiva. Essa era uma boa descrição da minha mãe – quando ela
estava prestando atenção. Na maior parte do tempo Renée
estava tão perplexa com a sua própria vida que ela não reparava
muito nas outras coisas. Mas esse fim de semana ela esteve
prestando bastante atenção em mim.
Phil estava ocupado – o time colegial de baseball que ele estava
treinando estava nas semi finais – e estando sozinha com Edward
e eu apenas aguçou os sentidos de Renée. Assim que os abraços e
os gritinhos de deleite dela estavam fora do caminho, Renée
começou a prestar atenção. E enquanto ela prestava atenção,
seus grandes olhos azuis ficaram primeiro confusos e depois
preocupados.
Essa manhã nós havíamos saído pra fazer uma caminhada na
praia. Ela queria mostrar as belezas do novo lar dela, ainda
esperando, eu acho, que o sol pudesse me atrair a sair de Forks.
Ela também queria falar comigo a sós, e isso foi facilmente
arranjado. Edward havia inventado um trabalho de termologia
para dar a si mesmo uma desculpa pra ficar dentro de casa
durante o dia.
Na minha cabeça, eu repassei a conversa de novo...
Renée e eu andamos pela calçada, tentando ficar ao alcance das
sombras inconstantes que vinham das palmeiras. Apesar de ser
cedo, o calor estava começando a se acumular. O ar estava tão
pesado com a umidade que simplesmente inspirar e expirar já era
um exercício para os meus pulmões.
“Bella?”, minha mãe perguntou, olhando através da areia para as
ondas quebrando enquanto falava.
“O que é, mãe?”
Ela suspirou, sem me olhar nos olhos. “Eu estou preocupada...”
“O que é?” eu perguntei, ficando imediatamente ansiosa. “O que
eu posso fazer?”
“Não sou eu”. Ela balançou a cabeça. “Eu estou preocupada com
você... e Edward”.
Renée finalmente olhou pra mim quando disse o nome dele, o
rosto dela estava apologético.
“Oh”, eu murmurei, fixando o meu olhar num par de corredores
enquanto eles passaram por nós, molhados de suor.
“Vocês dois são mais sérios do que eu estive pensando”, ela
continuou.
Eu fiz uma careta, rapidamente revendo os últimos dois dias na
minha cabeça. Edward e eu mal nos tocamos – ns frente dela,
pelo menos. Eu me perguntei se Renée ia me passar um sermão
sobre responsabilidade também. Não me importava como com o
de Charlie. Com a minha mãe isso não era vergonhoso. Afinal, era
eu quem vivia passando esse sermão nela de vez em quando pelos
últimos dez anos.
“Há alguma coisa... estranha com o jeito de vocês dois juntos”,
ela murmurou, a testa dela estava enrugando sobre os seus olhos
confusos. “O jeito como ele olha pra você – é tão... protetor.
Como se ele estivesse prestes a se jogar na frente de uma bala
pra te salvar ou algo assim”.
Eu ri, apesar de ainda não ser capaz de olha-la nos olhos. “Isso é
uma coisa ruim?”
“Não”, ela fez uma careta enquanto lutava pra encontrar as
palavras. “Só é diferente. Ele é muito intenso com você... e muito
cuidadoso. Eu sinto como não entendesse realmente o
relacionamento de vocês. Como se houvesse um segredo que eu
estou perdendo...”
“Eu acho que você está imaginando coisas, mãe”. Eu disse
rapidamente, lutando pra manter minha voz leve. Havia um
friozinho no meu estômago. Eu havia esquecido o quanto a minha
mãe via. Alguma coisa na sua forma simples de ver o mundo
ultrapassava todas as distrações e penetrava diretamente na
verdade das coisas. Isso nunca foi um problema antes. Até agora,
nunca houve um segredo que eu não pudesse contar pra ela.
“Não é só ele”. Ela juntou os lábios em defesa. “Eu queria que
você pudesse ver como se move perto dele”.
“O que você quer dizer?”
“A forma como você se move – você se orienta ao redor dele sem
nem sequer pensar nisso. Quando ele se move, mesmo que um
pouco, você ajusta a sua posição ao mesmo tempo. Como imãs... ou
gravidade. Você é como um satélite, ou algo assim. Eu nunca vi
nada parecido”.
Ela torceu os lábios e olhou pra baixo.
“Não me diga”, eu zombei, forçando um sorriso. “Você está lendo
mistérios de novo, não está? Ou dessa vez é ficção científica?”
Renée corou em um rosa delicado. “A questão vai além disso”.
“Achou algo bom?”
“Bom, houve um – mas isso não importa. Nós estamos falando de
você agora”.
“Você devia continuar nos romances, mãe. Você sabe que você
enlouquece”.
Os lábios dela torceram pra cima nos cantos. “Eu estou sendo
boba, não estou?”
Por meio segundo, eu não pude responder. Renée era tão
facilmente distraída. As vezes isso era uma coisa boa, porque
nem todas as idéias dela eram práticas. Mas me machucou ver o
quão rapidamente ela se rendia às minhas perguntas,
especialmente já que ela estava absolutamente certa dessa vez.
Ela olhou pra cima, e eu controlei a minha expressão.
“Boba não – só sendo mãe”.
Ela sorriu e depois fez um gesto largo na direção das areias
brancas que se estendiam para a água azul.
“E tudo isso não é suficiente pra fazer você voltar a morar com a
sua mãe boba?”
Eu bati a minha mãe dramaticamente na minha testa, e depois
fingi estar torcendo os meus cabelos.
“Você se acostuma com a umidade”, ela prometeu.
“Você também pode se acostumar á chuva”, eu apontei.
Ela me acotovelou de brincadeira e depois pegou a minha mãe
enquanto caminhávamos de volta para o carro.
Apesar das preocupações dela comigo, ela parecia feliz o
suficiente. Contente. Ela ainda olhava para Phil com olhos
abobalhados, e isso era reconfortante. Com certeza a vida dela
era plena e satisfatória. Com certeza ela não sentia a minha falta
tanto assim, mesmo agora...
Os dedos gelados de Edward alisavam a minha bochecha. Eu olhei
pra cima, piscando, voltando para o presente. Ele se inclinou e me
deu um beijo na testa.
“Você está em casa, Bela Adormecida. Hora de acordar”.
Nós estávamos parados na frente da casa de Charlie. A luz da
varanda estava acesa e a viatura estava parada na entrada de
carros. Enquanto eu examinava a casa, eu vi a cortina se mexer
na janela da sala de estar, jogando uma linha de luz amarela
através da grama escura.
Eu suspirei. É claro que Charlie estava esperando para reclamar.
Edward deve ter pensado a mesma coisa, porque a expressão
dele estava rígida e os olhos dele estavam remotos enquanto ele
vinha abrir a porta pra mim.
“Quão ruim?”, eu perguntei.
“Charlie não vai ser difícil”, Edward prometeu, o nível de voz dele
não continha humor. “Ele sentiu a sua falta”.
Os meus olhos se estreitaram duvidosamente. Se esse era o
caso, então porque Edward estava tenso como se para batalhar?
A minha mala era pequena, mas ele insistiu em carrega-la até em
casa. Charlie segurou a porta aberta para nós.
“Bem vinda ao lar, guria!” Charlie gritou como se estivesse
falando sério. “Como foi Jacksonville?”
“Úmido. E com insetos”.
“Então Renée não te convenceu a ir para a universidade da
Flórida?”
“Ela tentou. Mas eu prefiro beber água do que inalá-la”.
Os olhos de Charlie se moveram sem vontade para Edward. “Você
se divertiu?”
“Sim”, Edward respondeu numa voz serena. “Renée foi muito
hospitaleira”.
“Isso é... hum, bom. Fico feliz que você se divertiram”. Charlie
virou de costas pra Edward e me puxou em um abraço
inexperado.
“Impressionante”, eu suspirei no ouvido dele.
Ele abafou um riso. “Eu realmente senti sua falta, Bells. A comida
aqui é uma droga quando você não está”.
“Eu vou cuidar disso”, eu disse enquanto ele me soltava.
“Você poderia ligar para Jacob antes? Ele esteve me enchendo a
casa cinco minutos desde as seis horas dessa manhã. Eu prometi
que te faria ligar pra ele antes mesmo de desfazer as malas.”
Eu não tive que olhar pra Edward pra saber que ele estava rígido
demais, frio demais ao meu lado. Então esse era o motivo da
tensão.
“Jacob quer falar comigo?”
“Muito, eu diria. Ele não quis me dizer sobre o que era – só disse
que era importante”.
Então o telefone tocou, barulhento e insistente.
“É ele de novo, eu aposto o meu próximo salário”, Charlie
murmurou.
“Eu atendo”. Eu corri para a cozinha.
Edward me seguiu enquanto Charlie desaparecia na sala de estar.
Eu agarrei o telefone no meio do toque, e me virei até que fiquei
encarando a parede. “Alô?”
“Você está de volta”, Jacob disse.
A familiar voz rouca dele mandou uma onda de por mim. Um
milhão de memórias giraram na minha cabeça, se enroscando –
uma praia cheia de pedras cercada de árvores de salgueiro, uma
garagem feita de telhas de plástico, refrigerantes quentes em
um saco de papel, uma sala pequena com uma poltrona pequena
demais. O sorriso em seus olhos profundos-muito pretos, o calor
febril da mão grande dele, e o brilho dos seus dentes brancos em
contraste com sua pele escura., o rosto dele se contraindo em um
grande sorriso que sempre foi a chave para a porta secreta onde
apenas bons espíritos eram permitidos de entrar.
Parecia ser uma espécie de saudade de casa, essa vontade do
lugar e da pessoa que havia me protegido na minha noite mais
escura.
Eu limpei o caroço da minha garganta. “Sim”, eu respondi.
“Porque você não me ligou?”, Jacob quis saber.
O tom raivoso da voz dele rapidamente me trouxe de volta.
“Porque eu estava em casa a exatamente quatro segundos e a sua
ligação interrompeu Charlie que estava dizendo que você ligou”.
“Oh. Desculpe”.
“Claro. Agora, porque você está assediando Charlie?”
“Eu preciso falar com você”
“É, eu descobri essa parte sozinha. Vá em frente”
Houve uma curta pausa.
“Você vai para a escola amanhã?”
Eu fiz uma careta para mim mesma, incapaz de entender o
sentido dessa pergunta. “É claro que vou. Porque não iria?”
“Eu não sei. Só curioso”.
Outra pausa.
“Então sobre o que você queria falar, Jake?”
Ele hesitou. “na verdade nada, eu acho. Eu... eu queria ouvir a sua
voz”.
“É, eu sei. Eu estou tão feliz por você ter ligado. Eu...” Mas eu
não sabia o que mais dizer. Eu queria dize-lo que estava a
caminho de La Push agora. E eu não podia dizê-lo isso.
“Eu tenho que ir”, ele disse abruptamente.
“O que?”
“Eu falo com você em breve, ta legal?”
“Mas Jake –“
Ele já tinha ido embora. Eu escutei o tom de discagem sem
acreditar.
“Isso foi curto”, eu murmurei.
“Está tudo bem?” Edward perguntou. A voz dele estava baixa e
cuidadosa.
Eu me virei lentamente pra ele. A expressão dele estava
perfeitamente suave – impossível de ler.
“Eu não sei. Eu me pergunto o que foi isso”. Não fazia sentido que
Jake tivesse rondado Charlie o dia inteiro só pra me perguntar
se eu ia para a escola. E se ele queria ouvir a minha voz, então
porque ele desligou tão rápido?
“A sua suposição provavelmente é melhor do que a minha”,
Edward disse, a sombra de um sorriso aparecendo nos cantos da
boca dele.
“Mmm”, eu murmurei. Isso era verdade. Eu conhecia Jake por
dentro e por fora. Não devia ser tão complicado descobrir as
motivações dele.
Com os meus pensamentos a milhas de distância – cerca de quinze
milhas de distância, na estrada para La Push – eu comecei a
mexer na frigideira, misturando os ingredientes do jantar de
Charlie. Edward se inclinou no balcão, e eu estava distantemente
consciente dos olhos dele no meu rosto, mas preocupada demais
para me preocupar com o que ele via lá.
A coisa da escola parecia ser a chave pra mim. Essa foi a única
pergunta de verdade que Jake fez. E ele devia estar procurando
a resposta para alguma coisa, senão ele não teria chateado
Charlie tão insistentemente.
No entanto, porque o meu registro de presença era importante
pra ele?
Eu tentei pensar nisso de forma lógica. Então, se eu não
estivesse indo para a escola amanhã, qual seria o problema com
isso, na perspectiva de Jacob? Charlie me passou um pequeno
sermão por perder um dia de aula tão perto das provas finais,
mas eu o convenci de que uma Sexta não ia atrapalhar os meus
estudos. Jake dificilmente se importaria com isso.
O meu cérebro se recusava a ter uma intuição brilhante. Talvez
eu estivesse perdendo um pedaço vital de informação.
O que havia mudado nos últimos três dias que era tão importante
a ponto de fazer Jacob quebrar o longo período de se recusar a
atender meus telefonemas e entrar em contato comigo? Que
diferença três dias podia fazer?
Eu congelei no meio da cozinha.
O pacote de hambúrguer congelado escorregou da minha mão
pelos meus dedos entorpecidos. Me levou um lento segundo pra
perder o barulho que ele devia ter feito ao bater no chão.
Edward o havia pego e atirado no balcão. Os braços dele já
estavam ao meu redor, os lábios dele no meu ouvido.
“Qual é o problema?”
Eu balancei minha cabeça, confusa.
Três dias podiam mudar tudo.
Eu não estava pensando no quanto a faculdade era impossível?
Como eu não poderia nem chegar perto de pessoas durante os
dolorosos três dias da conversão que ia me livrar da mortalidade,
pra que eu pudesse passar a eternidade com Edward? A
conversão que me faria pra sempre prisioneira da minha própria
sede...
Será que Charlie tinha contado pra Billy que eu desapareci por
três dias? Será que Billy tinha tirado conclusões? Será que
Jacob realmente estava me perguntando se eu ainda era
humana? Tendo certeza de que o trato dos lobisomens
continuava intacto – que nenhum dos Cullen havia mordido um
humano... mordido... não matado...?
Mas ele realmente achava que eu voltaria para casa pra Charlie
se esse fosse o caso?
Edward me chacoalhou. “Bella?” ele perguntou, realmente ansioso
dessa vez.
“Eu acho... eu acho que ele estava checando”. Eu murmurei.
“Checando pra ter certeza. De que eu sou humana, eu quero
dizer”.
Edward enrijeceu, e um rugido baixo soou no meu ouvido.
“Nós teremos que ir embora”, eu suspirei. “Antes. Para que o
acordo não seja quebrado. Nós não seremos mais capazes de
voltar”.
Os braços dele se apertaram ao meu redor. “Eu sei”.
“Ahem” Charlie limpou sua alto a voz atrás de nós.
Eu pulei e depois me livrei dos braços de Edward, meu rosto
ficando quente. Edward se inclinou de volta no balcão. Os olhos
dele estavam estreitos. Eu podia ver preocupação neles, e raiva.
“Se você não quer fazer o jantar, eu peço uma pizza”, Charlie
ofereceu.
“Não, está tudo bem. Eu já comecei”.
“Okay”, Charlie disse. Ele se encostou no arco da porta, cruzando
os braços.
Eu suspirei e comecei a trabalhar, tentando ignorar a minha
platéia.
“Se eu te pedisse pra fazer uma coisa, você confiaria em mim?”,
Edward perguntou, com um tom em sua voz macia.
Nós estávamos quase na escola. Edward estava relaxado e
fazendo piada a apenas um momento atrás, e agora as mãos dele
estavam agarrando o volante com força, as articulações dele
lutando com o esforço para não quebrá-lo em pedaços.
Eu encarei a expressão ansiosa dele – os olhos dele estavam
distantes, como se ele estivesse ouvindo vozes distantes.
O meu pulso acelerou em resposta ao estresse dele, mas eu
respondi cautelosamente. “Isso depende”.
Nós entramos no estacionamento da escola.
“Eu temia que você fosse dizer isso”.
“O que você quer que eu faça, Edward?”
“Eu quero que você fique no carro”, ele parou na sua vaga habitual
e desligou o motor enquanto falava. “Eu quero que você espere
aqui até eu voltar pra te buscar”.
“Mas... porque?”
Foi aí que eu vi ele. Ele teria sido difícil de não reparar,
parecendo uma torre sobre os estudantes como ele estava,
mesmo se ele não estivesse encostado em sua moto preta, que
estava estacionada ilegalmente na calçada.
“Oh”
O rosto de Jake era uma máscara de calma que eu conhecia bem.
Era o rosto de que ele usava quando estava disposto a manter as
suas emoções sob controle. Ela fazia ele parecer Sam, o mais
velho dos lobos, o líder do bando Quileute. Mas Jacob nunca
conseguia controlar a perfeita serenidade que Sam sempre
demonstrava.
Eu havia me esquecido do quanto aquele rosto me incomodava.
Apesar de eu ter conhecido Sam muito bem antes dos Cullen
voltarem – até gostar dele – eu nunca fui completamente capaz
de ignorar o ressentimento que eu sentia quando Jacob imitava a
expressão de Sam. Era um rosto estranho. Ele não era o meu
Jacob quando o usava.
“Você tirou a conclusão errada na noite passada”, Edward
murmurou. “Ele perguntou sobre a escola porque ele sabia que eu
estaria onde você estivesse. Ele estava procurando por um lugar
seguro pra conversar comigo. Um lugar com testemunhas”.
Então eu havia interpretado mal os motivos de Jacob na noite
passada. Perdendo informações, esse era o problema.
Informações como porque nesse mundo Jacob ia querer falar
com Edward.
“Eu não vou ficar no carro”, eu disse.
Edward rosnou baixinho. “É claro que não. Bem, vamos acabar
logo com isso”.
O rosto de Jacob endureceu quando caminhamos em direção a
ele, de mãos dadas.
Eu reparei nos outros rostos também – os rostos dos meus
colegas de classe. Eu reparei em como os olhos deles arregalavam
enquanto eles observavam os 2,4m do longo corpo de Jacob, mais
musculoso do que um garoto de dezesseis anos e meio podia ser.
Eu vi aqueles olhos se mexerem em cima da sua camisa preta
apertada – com mangas curtas, apesar de ser um dia
razoavelmente frio – seus jeans surrados e sujos de graxa, e a
moto preta brilhante na qual ele estava se encostando. Os olhos
deles não ficavam em seu rosto – alguma coisa na expressão dele
fazia com que eles desviassem o olhar rapidamente. E eu reparei
no grande espaço que todos davam pra ele, a bolha de espaço da
qual ninguém ousava se aproximar.
Com uma sensação de surpresa, eu me dei conta de que Jacob
parecia perigoso para eles. Que estranho.
Edward parou a alguns metros de Jacob, e eu podia notar que ele
estava desconfortável por me ter tão perto de um lobisomem.
Ele colocou sua mão pra trás um pouco, me colocando um pouco
atrás do seu corpo.
“Você podia ter nos ligado”, Edward disse numa voz dura como
aço.
“Desculpe”, Jacob respondeu, o rosto dele se contorcendo em
uma careta de zombaria. “Eu não tenho sanguessugas na minha
discagem rápida”.
“Você podia ter me encontrado na casa de Bella, é claro”.
A mandíbula de Jacob flexionou, e as sobrancelhas dele estavam
juntas. Ele não respondeu.
“Esse dificilmente é o lugar, Jacob. Podíamos discutir isso
depois?”
“Claro, claro. Eu vou passar na sua cripta depois da escola”.
Jacob bufou. “Qual é o problema com agora?”
Edward olhou ao redor apontando, os olhos dele pairando sobre
as testemunhas que mal estavam fora do alcance auditivo.
Algumas pessoas estavam hesitando na calçada, seus olhos
brilhando de expectativa. Como se eles estivessem esperando
que um briga fosse começar para aliviar o tédio de outra manhã
de Segunda. Eu vi Tyler Crowley cutucando Austin Marks, e os
dois pararam no caminho para a aula deles.
“Eu já sei o que você veio pra dizer” Edward lembrou Jacob numa
voz tão baixa que eu mal consegui ouvir. “Mensagem entregue.
Nos considere avisados”.
Edward olhou pra baixo pra mim por um rápido segundo com olhos
preocupados.
“Avisados?” eu perguntei sem entender. “Do que vocês estão
falando?”
“Você não contou pra ela?” Jacob perguntou, seus olhos
arregalando de descrença. “O que foi, você estava com medo de
que ela escolhesse o nosso lado?”
“Por favor deixa pra lá, Jacob” Edward disse com uma voz
uniforme.
“Porque?” Jacob desafiou.
Eu fiz uma careta de confusão. “O que eu não sei? Edward?”
Edward simplesmente encarou Jacob como se não tivesse me
ouvido.
“Jake?”
Jacob ergueu uma sobrancelha para mim. “Ele não te contou que
o... irmão mais velho dele cruzou a linha Sábado à noite?” ele
perguntou, o seu tom ficou pesado com uma camada de sarcasmo.
E aí os olhos dele voltaram para Edward. “Paul está totalmente
justificado em –“
“Aquela terra não tem donos!” Edward assobiou.
“Não é não!”
Jacob estava ficando visivelmente nervoso. As mãos dele
tremiam. Ele balançou a cabeça e sugou o ar profundamente para
os pulmões duas vezes.
“Emmett e Paul?” eu sussurrei. Paul era o irmão mais volátil do
bando de Jacob. Foi ele quem perdeu o controle naquele dia na
floresta – a memória do lobo cinza repentinamente estava vívida
na minha mente. “O que aconteceu? Eles estavam brigando?” A
minha voz foi aumentando com o pânico. “Porque? Paul se
machucou?”
“Ninguém brigou” Edward disse baixinho, só pra mim. “Ninguém
se machucou. Não fique ansiosa”.
Jacob estava olhando pra nós com olhos incrédulos. “Você não a
contou absolutamente nada, contou? Foi por isso que você a levou
embora? Pra que ela não soubesse que -?”
“Vá embora agora”. Edward o cortou no meio da frase, e o rosto
dele ficou repentinamente assustador. Por um segundo, ela
pareceu com... com um vampiro. ele olhou pra Jacob com ódio
cruel, descontrolado.
Jacob ergueu as sobrancelhas, mas não fez outro movimento.
“Porque você não contou pra ela?”
Eles se encararam silenciosamente por um longo momento. Mais
estudantes se acumularam atrás de Tyler e Austin. Eu vi Mike ao
lado de Ben – Mike estava com uma mão sobre o ombro de Ben,
como se estivesse segurando-o no lugar.
No silêncio mortal, todos os detalhes de repente se encaixaram
pra mim como uma explosão de intuição.
Alguma coisa que Edward não queria que eu soubesse.
Alguma coisa que Jacob não teria escondido de mim.
Algo que havia lançado tanto os Cullen quanto os lobisomens na
floresta, movendo em perigosa proximidade uns dos outros.
Alguma coisa que faria Edward insistir pra que eu voasse através
do país.
Alguma coisa que Alice tinha visto na visão da semana passada –
uma visão sobre a qual Edward havia mentido pra mim.
Uma coisa pela qual eu já estava esperando do mesmo jeito. Uma
coisa que eu sabia que aconteceria de novo, não importava o
quanto eu desejasse que não acontecesse. Isso não ia acabar
nunca, não é?
Eu ouvi o rápido gasp, gasp, gasp, gasp do ar passando pelos meus
lábios, mas eu não conseguia evitar. Parecia que a escola estava
tremendo, como se houvesse um terremoto, mas eu sabia que era
o meu próprio tremor que causava a ilusão.
“Ela voltou por mim” eu me engasguei.
Victória nunca ia desistir até que eu estivesse morta. Ela
continuaria repetindo o mesmo padrão – aparecer e fugir,
aparecer e fugir – até que ela encontrasse um buraco entre os
meus defensores.
Talvez eu tivesse sorte. Talvez os Volturi me encontrassem
primeiro – pelo menos, eles me matariam mais rápido.
Edward me segurou com força ao seu lado, angulando seu corpo
para que ele ainda estivesse entre mim e Jacob, e acariciou meu
rosto com mãos ansiosas. “Está tudo bem”, ele sussurrou. “Está
tudo bem. Eu nunca vou deixa-la se aproximar de você. Está tudo
bem”.
Então ele encarou Jacob. “Isso responde a sua pergunta,
mongol?”
“Você não acha que Bella tem o direito de saber?” Jacob
desafiou. “É a vida dela”
Edward manteve sua voz baixa; mesmo Tyler, que estava se
inclinando uns centímetros para a frente, seria incapaz de ouvir.
“Porque ela devia ser assustada se ela nunca estava em perigo?”
“Melhor assustada do que enganada”.
Eu tentei me recompor, mas os meus olhos estavam nadando em
umidade. Eu podia vê-la por trás das minhas pálpebras – eu podia
ver o rosto de Victoria, seus lábios erguidos sobre seus dentes,
seus olhos vermelhos brilhando com sua obsessão por vingança;
ela responsabilizava Edward pela morte do seu amor, James. Ela
não pararia até que o amor dele fosse tirado também.
Edward limpou as lágrimas das minhas bochechas com as pontas
dos dedos.
“Você realmente acha que machuca-la é melhor do que protegêla?”
ele murmurou.
“Ela é mais durona do que você pensa” Jacob disse. “E ela já
passou por coisa pior”.
Repentinamente, a expressão de Jacob mudou, e ele estava
olhando pra Edward com uma expressão estranha, especulativa.
Os olhos dele ficaram estreitos como se ele estivesse tentando
resolver um problema difícil de matemática na cabeça.
Eu senti Edward enrijecer. Eu olhei pra ele, e o rosto dele estava
contorcido com o que só podia ser dor. Por um momento terrível,
eu me lembrei daquela tarde na Itália, no macabro quarto na
torre dos Volturi, onde Jane havia torturado Edward com o seu
dom maligno, queimando-o apenas com seus pensamentos...
A memória me arrancou da minha histeria e colocou tudo em
perspectiva. Porque eu preferiria que Victoria me matasse mil
vezes do que ver Edward sofrer aquilo de novo.
“Isso é engraçado” Jacob disse, rindo enquanto ele olhava o
rosto de Edward.
Edward gemeu, mas suavizou a expressão com um pouco de
esforço. Ele não conseguia esconder muito bem a agonia em seus
olhos.
Eu olhei, com os olhos arregalados, da careta de Edward para o
riso de Jacob.
“O que você está fazendo com ele?” eu quis saber.
“Não é nada, Bella” Edward me disse baixinho. “Jacob tem uma
boa memória, isso é tudo”.
Jacob deu um sorriso largo e Edward gemeu de novo.
“Pare com isso! O que quer que você esteja fazendo”.
“Claro, se você quer”, Jacob levantou os ombros. “No entanto, é
culpa dele mesmo que ele não gosta do que eu lembro”.
Eu o encarei, e ele sorriu de volta cinicamente – como uma
criança que foi pega fazendo alguma coisa que ele sabe que não
devia por uma pessoa que ele sabe que não vai castigá-lo.
“O diretor está à caminho para desencorajar badernas no
terreno escolar”. Edward murmurou pra mim. “Vamos para a aula
de Inglês, Bella, pra que você não se involva”.
“Ele é super protetor, não é?” Jacob disse, falando só comigo.
“Um pouco de problema é divertido. Deixa eu adivinhar, você não
tem permissão pra se divertir, não é?”
Edward encarou, e seus lábios se ergueram um pouco sobre seus
lábios.
“Cala a boca, Jake”, eu disse.
Jacob riu. “Isso soa como um não. hey, se um dia você sentir
vontade de ter uma vida novo, você podia vir me ver. Eu ainda
estou com a sua moto na garagem”.
Essa notícia me distraiu. “Era pra você ter vendido aquilo. Você
prometeu a Charlie que venderia”. Se eu não tivesse implorado
por Jacob – afinal, foi ele quem trabalhou nas duas motos, e ele
merecia um pouco do meu troco – Charlie teria jogado a minha
moto num lixão. E possivelmente incendiaria o lixão.
“É, certo. Como se eu fosse fazer isso. Ela pertence a você, não a
mim. De qualquer forma, eu vou guardá-la até você voltar”.
Uma pequena sombra do sorriso que eu lembrava repentinamente
estava brincando nos cantos dos lábios dele.
“Jake...”
Ele se inclinou para a frente, agora seu rosto estava ansioso, o
sarcasmo ácido estava desaparecendo. “Eu acho que estava
errado antes, sabe, sobre e eu você não sermos capazes de ser
amigos. Talvez pudéssemos lidar com isso, no meu lado da linha.
Venha me ver”.
Eu estava vividamente consciente de Edward, com seus braços
ainda me cercando protetoramente, imóvel como uma pedra. Eu
dei uma olhada no rosto dele – estava calmo, paciente.
Jacob abriu mão completamente da fachada antagonista. Foi
como se ele tivesse esquecido que Edward estava lá, ou pelo
menos ele estava determinado a agir dessa forma. “Eu sinto sua
falta todos os dias, Bella. Não é a mesma coisa sem você”.
“Eu sei e eu sinto muito, Jake, é só que eu...”
Ele balançou a cabeça e suspirou. “Eu sei. Não importa, certo? Eu
acho que eu vou sobreviver ou algo assim. Quem precisa de
amigos?” Ele fez uma careta, tentando esconder a dor com uma
fina tentativa de bravura.
O sofrimento de Jacob sempre fazia o meu lado protetor
despertar. Isso não era completamente racional – Jacob
dificilmente precisaria de qualquer proteção física que eu
pudesse oferecer. Mas os meus braços, apertados embaixo dos
de Edward, queriam alcançá-lo. Envolver a sua cintura grande,
quente em uma promessa silenciosa de aceitação e conforto.
Os braços protetores de Edward se tornaram restritivos.
“Tudo bem, para as salas” uma voz diferente soou atrás de nós.
“Mova-se, Sr. Crowley”.
“Vá para a escola, Jake”, eu sussurrei, ansiosa assim que eu
reconheci a voz do diretor. Jacob freqüentava a escola Quileute
mas ele ainda podia ter problemas por invasão ou algo assim.
Edward me soltou, segurando apenas a minha mão e me puxando
pra trás do seu corpo de novo.
O Sr. Greene abriu caminho pelo círculo de espectadores, as
suas sobrancelhas pressionadas pra baixo como nuvens de uma
tempestade mal humorada em cima dos seus olhos pequenos.
“Eu falo sério”, ele estava ameaçando. “Detenção pra todo mundo
que ainda estiver aqui quando eu me virar de novo”.
A platéia de dissolveu antes que ele terminasse a frase.
“Ah, Sr. Cullen. Temos um problema aqui?”
“Absolutamente não, Sr. Greene. Nós estávamos a caminho da
aula”.
“Excelente. Eu não pareço reconhecer o seu amigo” O Sr. Greene
virou seu olhar para Jacob. “Você é um estudante novo aqui?”
Os olhos do Sr. Greene estudaram Jacob, e eu podia ver que ele
havia chegado a conclusão que todos haviam chegado: perigoso.
Um encrenqueiro.
“Não”, Jacob respondeu, um meio sorriso nos seus lábios cheios.
“Então eu sugiro que você se retire da propriedade escola
imediatamente, meu jovem, antes que eu ligue para a polícia”.
O pequeno sorriso de Jacob se transformou num riso aberto, e
eu sabia que ele estava imaginando Charlie aparecendo para
prendê-lo. Esse sorriso era ácido demais, muito cheio de
zombaria para o meu gosto. Esse não era o sorriso que eu estive
esperando pra ver.
Jacob disse “Sim, senhor” e fez uma saudação militar antes de
montar em sua motocicleta e dar a partida lá mesmo na calçada.
O motor roncou e os pneus cantaram quando ele fez uma curva
fechada. Em questão de segundos, Jacob estava fora de vista.
O Sr. Greene arranhou os trincou os dentes enquanto ele assistia
essa performance.
“Sr. Cullen, eu espero que você peça que seu amigo se retenha de
invadir de novo”.
“Ele não é meu amigo, Sr Greene, mas eu vou passar o aviso”.
O Sr. Greene torceu os lábios. As notas perfeitas e os registros
impecáveis de Edward eram claramente uma fator para a análise
do Sr Greene do incidente. “Eu entendo. Se você estiver
preocupado com qualquer problema, eu ficaria feliz em –“
“Não há nada com o que se preocupar, Sr. Greene. Não haverá
nenhum problema”.
“Eu espero que isso esteja correto. Bem, então. Para a aula. Você
também, Srta. Swan”.
Edward acenou com a cabeça, e me puxou junto rapidamente em
direção ao prédio da aula de Inglês.
“Você se sente bem o suficiente para ir para a aula?” ele
sussurrou quando passamos do diretor.
“Sim” eu sussurrei de volta, sem ter certeza de se era uma
mentira.
Quer eu me sentisse bem ou não, essa dificilmente era a
consideração mais importante. Eu precisava falar com Edward
imediatamente, e a aula de Inglês não era o local ideal para a
conversa que eu tinha em mente.
Mas com o Sr. Greene bem atrás de nós, não haviam muitas
outras opções.
Nós chegamos na aula um pouco atrasados e nos sentamos
rapidamente. O Sr. Berty estava recitando um poema de Frost.
Ele ignorou a nossa entrada, se recusando a nos deixar quebrar o
seu ritmo.
Eu arranquei uma página em branco do meu caderno e comecei a
escrever, a minha escrita estava mais ilegível do que o normal
graças a minha agitação.
-O que aconteceu? Me conte tudo. E para com essa bobagem de
me proteger, por favor.
Eu joguei o bilhete para Edward. Ele suspirou e então começou a
escrever. Ele levou menos tempo que eu, apesar dele ter escrito
um parágrafo inteiro com a sua caligrafia particular antes de
passar o papel de volta.
-Alice viu que Victoria estava vindo. Eu te tirei da cidade
meramente por precaução – nunca houve uma chance de que
Victoria chegasse em algum lugar perto de você. Emmett e
Jasper por pouco não pegaram ela, mas Victoria parece ter algum
instinto para fuga.
-Ela escapou bem por baixo das fronteira Quileute como se ela
estivesse vendo um mapa. Não ajudou muito as habilidades de
Alice serem inúteis com os Quileute. Para ser honesto, os
Quileute podiam ter pego ela também, se nós não tivéssemos
entrado no caminho. O grande cinza achou que Emmett tinha
ultrapassado a barreira e ficou defensivo. É claro que Rosalie
reagiu a isso, e todos abandonaram a caçada pra proteger seus
companheiros. Carlisle e Jasper conseguiram acalmar as coisas
antes que elas saíssem do controle. Mas até aí, Victoria já tinha
escapado. Isso é tudo.
Eu fiz uma careta para as letras na página. Todos eles haviam
estado nisso – Emmett, Jasper, Alice, Rosalie e Carlisle. Talvez
até Esme, apesar dele não ter mencionado ela. E também Paul e o
resto do bando Quileute. Podia ter sido tão fácil as coisas
acabarem em briga, colocando a minha futura família e os meus
velhos amigos uns contra os outros. E qualquer um deles podia
ter se machucado. Eu imaginei que os lobisomens estariam em
maior perigo, mas imaginando a pequena Alice perto de um dos
enormes lobisomens, lutando...
Eu tremi.
Cuidadosamente, eu apaguei o parágrafo inteiro com a minha
borracha e escrevi no topo:
-E quanto a Charlie? Ela podia ter estado atrás dele.
Edward já estava balançando a cabeça antes de eu ter
terminado, obviamente preparado pra lidar com qualquer perigo
que afligisse Charlie. Ele levantou a mão, mas eu ignorei e
comecei de novo.
-Você não pode saber que ela não estava pensando isso, porque
você não estava aqui. Flórida foi uma má idéia.
Ele pegou o papel de baixo da minha mão
-Eu não estava disposto a te mandar sozinha. Com a sua sorte,
nem a caixa preta sobreviveria.
Não foi isso o que eu quis dizer; eu não tinha pensado em ir sem
ele. Eu quis dizer que nós devíamos ter ficado aqui juntos. Mas
eu fui distraída pela resposta, e um pouco ofendida. Como se eu
não pudesse voar pelo país sem fazer o avião cair. Muito
engraçado.
-Então digamos que a minha má sorte tivesse derrubado o avião.
O que exatamente você teria feito sobre isso?
-Porque o avião está caindo?
Agora ele estava tentando esconder um sorriso.
-Os pilotos desmaiaram de bêbados.
-Fácil. Eu pilotaria o avião.
É claro. Eu torci os meus lábios de novo.
-Os dois motores explodiram e estamos caindo em espiral em
direção à morte.
-Eu vou esperar até estarmos bem perto do chão, te segurar
bem apertado, chutar a parede fora, e pular. Depois nós
voltaríamos a cena do acidente, e nós andaríamos por aí como os
dois sobreviventes mais sortudos da história.
Eu o encarei sem palavras.
“O que?” ele sussurrou.
Eu balancei a minha cabeça abobalhada. “Nada” eu fiz com a
boca.
Eu deixei pra lá a conversa desconcertante e escrevi mais uma
linha.
-Você vai me contar da próxima vez.
Eu sabia que haveria uma próxima vez. Esse padrão continuaria
até que alguém perdesse.
Edward me olhou nos olhos por um longo tempo. Eu me perguntei
qual seria a aparência do meu rosto – ele estava frio, como se o
sangue ainda não tivesse retornado para as minhas bochechas.
Os meus cílios ainda estavam molhados.
Ele suspirou e depois balançou a cabeça uma vez.
-Obrigada.
O papel desapareceu de baixo da minha mão. Eu olhei pra cima,
piscando com a minha surpresa, exatamente quando o Sr. Berty
vinha andando pelo corredor.
“Há alguma coisa que você queira dividir aí, Sr. Cullen?”
Edward olhou pra cima inocentemente e levantou uma folha de
papel do topo do seu caderno. “As minhas anotações?” ele
perguntou, parecendo confuso.
O Sr. Berty vasculhou as anotações – sem dúvida era um bela
prescrição da aula dele – e depois foi embora fazendo uma
careta.
Foi mais tarde, na aula de Cálculo – a única que eu não tinha com
Edward – que eu ouvi a fofoca.
“O meu dinheiro está no grande índio”, alguém estava dizendo.
Eu espiei pra ver que Tyler, Mike, Austin e Ben estavam com as
cabeças juntas, absolvidos em uma conversa.
“É”, Mike sussurrou. “Vocês viram o tamanho daquele garoto
Jacob? Eu acho que ele derrubava o Cullen” Mike parecia feliz
com a idéia.
“Eu não acho”, Ben discordou. “Tem alguma coisa em Edward. Ele
é sempre tão... confiante. Eu tenho a sensação de que ele saberia
cuidar de si mesmo”.
“Eu estou com Ben”, Tyler concordou. “Além do mais, se qualquer
outro garoto mexesse com Edward você sabe que aqueles irmãos
mais velhos dele iam se involver”.
“Você já esteve em La Push ultimamente?” Mike perguntou.
“Lauren e eu fomos à praia umas duas semanas atrás, e pode
acreditar em mim, os amigos de Jacob são tão grandes quanto
ele.”
“Huh” Tyler disse. “Que pena que não deu em nada. Acho que a
gente nunca vai saber como teria acabado”.
“Pra mim não pareceu acabado” Austin disse. “Talvez tenhamos a
chance de ver.”
Mike riu. “Alguém tá a fim de apostar?”
“Dez no Jacob” Austin disse imediatamente.
“Dez em Cullen” Tyler se juntou.
“Dez em Edward”, Bem concordou.
“Hey, algum de vocês sabe do que se tratou?” Austin pensou.
“Isso pode afetar os resultados”.
“Eu posso imaginar” Mike disse, e então deu uma olhada para mim
ao mesmo tempo que Ben e Tyler.
Pelas expressões deles, eles não se deram conta de que eu
estava a uma distância audível. Eles todos desviaram o olhar
rapidamente, enfiando papéis em suas mesas.
“Eu ainda digo Jacob”, Mike murmurou por baixo do fôlego.